A emissão de R$ 500 milhões em debêntures anunciada esta semana pela
SulAmérica
deixou um ponto de interrogação no mercado segurador brasileiro: o que
será feito com o dinheiro captado? Uma parte será usada para saldar uma
dívida da companhia e a outra deve reforçar o já considerável caixa de
R$ 1,2 bilhão para uma possível aquisição em 2012, segundo acreditam
analistas.
De acordo com o fato relevante divulgado na quarta-feira à noite, os R$
500 milhões captados são para suprir necessidades de caixa decorrentes
da expansão das operações da companhia e para reconstituir o caixa após a
liquidação de dívida financeira. Agora em fevereiro vencem R$ 336
milhões em notas seniores emitidas em 2007. O mistério é o que será
feito com os outros R$ 164 milhões que vão para o já recheado caixa.
É um movimento que chama a atenção, a empresa não precisa de dinheiro e
toma, disse um analista que preferiu não ser identificado, lembrando o
já significativo valor que a
seguradora
tem em caixa. Segundo o balanço do terceiro trimestre, a companhia
tinha R$ 1,180 bilhão de ativo circulante disponível. O valor ainda é
herança da abertura de capital em bolsa da empresa, realizada em 2007.
Procurada, a
SulAmérica informou estar em período de silêncio por causa da emissão.
A principal especulação entre executivos do
mercado de seguros
e analistas do setor é que o dinheiro será aplicado em alguma
aquisição, ainda neste ano. Em ocasiões passadas, quando questionado
sobre o uso do caixa da companhia, Thomaz Menezes, presidente da
seguradora, mencionava aquisições.
Na prática, porém, desde que abriu o capital, a
SulAmérica
fez apenas duas compras e de pequeno valor. Com o término da parceria
com o Banco do Brasil, comprou a participação do banco na Brasilsaúde
por R$ 28,4 milhões em maio de 2010. Mas abriu mão de 60% da
Brasilveículos, que ficou com o BB por R$ 359 milhões. A segunda
aquisição foi fechada em abril do ano passado, da operadora de planos
odontológicos Dental Plan, por R$ 28,5 milhões.
Outra possibilidade aventada é que o reforço de caixa esteja ligado aos
efeitos da queda da taxa básica de juro (Selic) e à possibilidade de a
Superintendência de
Seguros Privados (Susep) alterar as exigências de capital das
seguradoras
no Brasil, movimento que ocorre na Europa, com as regras de Solvência
II. Nos últimos anos, a Susep já alterou o requerimento de capital das
seguradoras para incluir os riscos de subscrição e de crédito. Falta, ainda, a inclusão dos riscos de mercado e operacional.
Com a queda da Selic, as
seguradoras vão enfrentar perdas no resultado financeiro, que costuma ter um peso considerável no lucro das
seguradoras. Executivos do mercado estimam que mais de 70% das
seguradoras dependam mais do resultado financeiro do que do operacional.
No caso da
SulAmérica, a margem bruta (que é o resultado operacional de
seguros,
mas sem contar as despesas administrativas) foi de R$ 271,8 milhões no
terceiro trimestre. No mesmo período, o resultado financeiro foi de R$
172,7 milhões. O lucro líquido foi de R$ 98 milhões.
A
seguradora fez importantes investimentos em pessoas e estrutura no ano passado, o que demandou recursos. Em entrevista ao
Valor
em dezembro, Menezes contou que foram abertos sete novos Centros
Automotivo de Super Atendimento (Casa). Mudanças foram feitas na
diretoria. Mas nada que absorva cifras bilionárias.
Fonte:
Valor Econômico | Finanças | BR
Felipe Marques e Thais Folego