A previdência complementar tem futuro
Por Antonio Penteado Mendonça, publicado em 15 Fevereiro 2016 no Jornal Estado de São Paulo.
Por Antonio Penteado Mendonça, publicado em 15 Fevereiro 2016 no Jornal Estado de São Paulo.
Em
2015 o setor de seguros ultrapassou os R$ 300 bilhões de faturamento.
Para um ano ruim, o setor não pode se queixar. Tem gente que foi muito
pior. Provavelmente, uma análise criteriosa da economia mostrará a
atividade como uma das menos afetadas pela crise que leva o Brasil
montanha abaixo, numa velocidade apavorante.
Mas
este número precisa ser visto com cautela. O crescimento não foi
homogêneo, tanto no que diz respeito aos ramos de seguros, como no que
diz respeito a todas as empresas que compõem o segmento. Dizer que o
seguro de veículos cresceu 3% é reconhecer que ele apresentou uma queda
de 7%. Não há como desconsiderar a inflação do período que, pela
primeira vez em duas décadas, ficou acima dos 10%.
Assim,
numa abordagem transparente do crescimento do setor, o que fica
evidente é que o carro chefe do crescimento foram os planos de
previdência complementar.
Os
PGBLs e VGBLs, que se mostraram não só resistentes à crise, mas,
principalmente, uma alternativa interessante para o investidor com
capacidade para deixar seu dinheiro aplicado por vários anos.
Dinheiro
não dorme de touca. Em qualquer circunstância, ele busca o melhor
caminho para sua multiplicação. E se tem quem insiste em remar contra a
maré, ou imagina que é mais esperto do que os outros e por isso perde
nas aplicações que escolhe, a maioria segue na toada do bom senso e é
exatamente aí que a previdência complementar abriu os braços para
receber quem quis aplicar nela.
O
segredo da previdência privada é ela ser uma troca entre o governo e o
investidor. Ainda que no Brasil isso não fique completamente claro, o
plano de previdência privada não é mais do que o governo abrir mão de
parte do imposto a que teria direito, em troca do investidor deixar o
dinheiro aplicado por períodos mais longos.
A
razão é simples: fazendo isso, o governo consegue recursos
relativamente baratos para financiar os projetos de infraestrutura,
normalmente de maturação longa e baixa remuneração.
A
rentabilidade de grande parte da previdência complementar aberta
brasileira está atrelada à remuneração dos títulos públicos federais.
Por uma série de razões, que não cabe serem analisadas agora, estes
papéis têm apresentado rentabilidade bastante elevada ao longo dos
últimos anos. E, em 2015, com a inflação passando a casa dos 10%, mais
uma vez eles se mostraram interessantes, já que a rentabilidade ficou
acima de 14%.
Só
isto, neste momento, seria uma boa razão para investir em previdência
complementar aberta. Mas ainda falta contar o pulo do gato: na troca
descrita acima, o governo reduz o imposto de renda incidente sobre os
investimentos com dez anos ou mais para 15%, ou seja, muito menos do que
o imposto incidente sobre a maioria das operações financeiras.
Juros
Como em 2016 os juros devem continuar elevados, mesmo com o governo fazendo pressão para o Banco Central reduzi-los, a previdência complementar permanece sendo um investimento interessante para quem tem dinheiro para aplicar à longo prazo.
Como em 2016 os juros devem continuar elevados, mesmo com o governo fazendo pressão para o Banco Central reduzi-los, a previdência complementar permanece sendo um investimento interessante para quem tem dinheiro para aplicar à longo prazo.
Isso
pode dar errado? Pode, mas aí toda a economia será afetada, o que, mais
do que prêmio de consolação, é mais uma justificativa para aplicar na
previdência complementar aberta.
O
grande risco do momento é a inflação escapar do controle. A última ação
do Banco Central, mantendo os juros nos patamares anteriores, foi mal
recebida pelo mercado porque, antes de tudo, sinalizou a submissão do
órgão à Presidência da República, o que não é nada animador, quando se
olha o desempenho do País nos últimos anos e os resultados dramáticos de
todas as invenções de moda do governo, na tentativa de ser “legal” para
a plateia, e que redundaram na crise atual.
Se
isto acontecer, o País corre o sério risco de afundar vertiginosamente e
perder mais uma década. Aí tanto faz se a aplicação estava em
previdência complementar ou qualquer outro ativo. Todos serão
penalizados.